18 janeiro, 2011

Índia - viagem 2010

“A pobreza da Índia atingiu-me como um martelo”, in “Seis Suspeitos”, do indiano Vikas Swarup, pág. 245.

No verão de 2010 viajámos para longe e fomos à descoberta da Índia.
Sendo o sétimo maior país do mundo, logo, impossível de conhecer em escassos quinze dias, optámos pelo programa “Índia Clássica” (que nos levou às cidades mais emblemáticas do norte), com extensão a Goa.
Iniciámos a viagem em Delhi, e seguiram-se Samode, Jaipur, Agra, Orchha, Khajuraho, Varanasi, Goa e Mumbai.
Não estávamos preparados para encontrar uma das maiores economias do mundo, e o segundo mais populoso país, devastado pela carência.
Não estávamos preparados para encontrar cidades com milhões de habitantes a viver numa pobreza extrema, numa sujeira chocante.
A primeira impressão à chegada a Delhi foi brutal.
Só ali vivem cerca de 16 milhões de habitantes e o caos é a todos os níveis: ruas buliçosas, edifícios apinhados, engarrafamentos intermináveis, barulho ininterrupto de apitos e buzinas, montanhas de lixo, um movimento alucinante de cabras, vacas, búfalos, gente, muita gente. Não há semáforos, não há sinaleiros, não há separadores nas estradas, não há passadeiras para peões. A buzina resolve todas as confusões e os condutores são, não tenho quaisquer dúvidas, os melhores do mundo.
O caos mantém-se em todas as cidades visitadas.
Cidades enormes, com estradas de terra batida, inundadas de lama e sujidade, prédios a ruir, barracas com lonas rasgadas, gente despojada de tudo, a dormir nos passeios, a comer, a lavar-se, a urinar para qualquer canto, a esperar pela morte. Gente que encontra na espiritualidade, nos rituais, na meditação, alimento para atingir a serenidade, a virtude, o conhecimento, a libertação.
Vende-se tudo, em todo o lado, mesmo se ao lado está uma montanha de lixo remexido por cães esqueléticos, cabras, vacas e búfalos.

Mas também vimos subúrbios luxuosos da abastada classe média, carros topo de gama, hotéis espantosos, monumentos fascinantes, museus que guardam cinco milénios de história indiana, jardins bem cuidados, guias competentes, motoristas experientes, gente simpática, homens que com um sorriso descarado nos miram dos pés à cabeça, mulheres lindas com saris coloridos que baixam o rosto quando se cruzam connosco, crianças devidamente fardadas a caminho das escolas, universidades enormes nos sítios mais improváveis.
Que contrastes...

Quando chegávamos ao quarto de hotel a pergunta que fazíamos a nós próprios era sempre a mesma: Como é possível?
Havia que parar, criar algumas regras de comportamento, aceitar as coisas como eram e deixarmo-nos de comparações com o Ocidente. Só assim poderíamos continuar a viagem.
Foi o que fizemos e acabámos por gostar.
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