21 maio, 2010

Pai Frutuoso A.

Este ano, se fosse vivo o meu outro pai – Frutuoso A. – faria 100 anos.
Partiu em 1999, mas durante 89 anos a família e os amigos conviveram com a sua força, a sua alegria, o seu exemplo de honestidade.
Lamentavelmente conheci-o na etapa final da vida, quando as maleitas físicas já se faziam sentir e a qualidade de vida começava a diminuir.
Mantinha intacto o amor pela família.
E foi a família que me contou histórias do passado que não vivi.
Soube que muito jovem partiu de uma aldeia no inteior interior – Sobral - para um país distante – Moçambique - e de mato fez milagres “A Chibata”.
Soube que acompanhava os trabalhadores de manhã à noite e a todos respeitava.
Soube que ali constituiu família, e ali nasceram os filhos e netos.
Soube que gostava de conviver com os amigos, de preferência em sua casa, provando e dando a provar os petiscos feitos pela mulher que o acompanhou até ao último suspiro.
Soube que ajudava todos os que o procuravam necessitados.
Soube que ganhava aos amigos quando apostavam quem beberia mais whiskies (com muita água, era assim que se bebia).
Soube que por vezes o carro que conduzia saía do alcatrão, e os filhos atrás riam sem parar.
Soube que ao decidir regressar a Portugal (na altura em que todos, ou quase todos o fizeram) deixara para trás tudo o que criara a partir do nada.
Soube que a tristeza começou a tomar conta da sua vida e só encontrava consolo na família.
Passava os dias entre Campo de Ourique e o Sobral (o regresso às origens, sempre). Lá carregava baterias, aqui envelhecia entre quatro paredes que o aprisionavam e lhe lembravam os horizontes sem fim que deixara em África.
Nos últimos anos passou por situações críticas e dolorosas que não quero recordar. Quero sim recordar, o carinho que me deu sempre.
Sei que sentiu que eu o acompanhei, o admirei, o acarinhei e o estimei sempre.
Onde estiver – um beijo de enorme saudade.
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